A cada 40 segundos, uma pessoa tira a própria vida em todo o mundo, disse a Organização Mundial da Saúde ( OMS ) nesta segunda. No geral, são cerca de 800 mil pessoas que morrem por suicídio a cada ano, número que supera o de mortes por malária, câncer de mama, guerra ou homicídio, diz a agência da ONU em relatório.

Especialistas explicam que o suicídio não é um comportamento isolado, mas multifatorial, ou seja, o resultado de uma complexa interação de fatores biológicos, genéticos, psicológicos, sociológicos, culturais e ambientais.

Um dos principais fatores associados, a depressão , também é, por sua vez, ocasionada por múltiplos fatores, que vão desde a predisposição genética e o desequilíbrio entre neurotransmissores até situações de vida que possam desestabilizar o indivíduo, agindo como “gatilho”. Entre os principais sintomas estão uma tristeza contínua, o desânimo, a falta de energia e a perda de prazer em atividades que antes eramprazerosas.

— É preciso quebrar o tabu sobre saúde mental, ela importa tanto quanto a física. Depressão não é frescura, nem psiquiatra é médico de maluco. Quanto mais informados estivermos, mais conseguimos prevenir — avalia o psiquiatra Higor Caldato.

Ele enfatiza ainda que uma das partes do tratamento, a medicação é importante em determinados casos para equilibrar as causas biológicas da depressão, como a falta de neurotransmissores.

Especialistas ressaltam que os sinais não são determinantes, ou seja, quem manifesta alguns desses comportamentos não necessariamente cometerá suicídio. Mas indicam ficar atento a alguns dos indícios de que alguém está em sofrimento grave.

  • Forte isolamento social;
  • Mudanças bruscas de comportamento;
  • Tristeza profunda;
  • Perda gradativa de prazer e interesse em coisas que tinha antes;
  • Frases como “eu não aguento mais”, “preferia estar morto”, “eu não posso fazer nada”;
  • Preocupação com a própria morte ou falta de esperança;
  • Queda brusca no rendimento escolar sem motivo aparente ou abstenção frequente no trabalho;
  • Automutilação.

Acolhimento e escuta qualificada

Além da depressão e de outros fatores de risco, como transtornos de bipolaridade e esquizofrenia, a OMS salienta que situações traumáticas, como de abusos físico, emocional ou sexual, também podem desencadear reações de desespero.

Em todos os casos, especialistas enfatizam a necessidade do apoio das pessoas ao redor. Suporte de amigos e familiares, além do acompanhamento profissional, são essenciais. É preciso criar mecanismos, dizem eles, para que a pessoa lide com o sofrimento.

— É preciso conduzir esse sofrimento para o que chamamos de “crescimento pós-traumático”, para aquela situação (de adversidade, como a perda de um parente ou do emprego) ser uma oportunidade de ver a vida de outra maneira. Por mais que família e amigos ajudem a criar uma rede de suporte, nestes momentos é primordial o apoio profissional, pois o médico ou psicólogo poderão ver a situação de forma mais neutra — diz Caldato, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

Especialista em prevenção do suicídio, o psicólogo Carlos Aragão Neto elenca outros pontos a serem observados ao abordar o indivíduo em sofrimento.

— Deve haver alguns cuidados para ouvir, como espaço e tempo adequados. Ninguém se sentirá à vontade se você estiver olhando o celular ou com pressa. Faça duas perguntas: “onde está doendo, fala da sua dor?” e “como posso te ajudar?” — afirma ele, que conclui: — A escuta qualificada é fundamental. A expressão de nossos sentimentos é condição básica para elaborá-los.

Ele desfaz ainda um mito que ronda a questão: a ideia de que quem anuncia que tirará a própria vida acaba não fazendo. Em grande parte, diz Aragão Neto, as pessoas avisam antes. Os sinais emitidos, porém, são de difícil detecção em muitos casos — o que ele enfatiza, para que não sobrecaia em parentes e amigos o sentimento de culpa.

 

Fonte: O Globo