Percorrendo mais de 12 mil quilômetros carregada pelo vento, a fumaça dos incêndios florestais que afetam a Austrália chegou ao Rio Grande do Sul, nesta terça-feira (7). Isso ocorre por que tanto o Rio Grande do Sul como a Austrália estão localizados praticamente na mesma altura do globo terrestre, entre os paralelos 25 e 30 ao sul do Equador, segundo a meteorologista Estael Sias, da Metsul, que tem monitorado o fenômeno. Paralelos são círculos que configuram as coordenadas geográficas de maneira horizontal – os meridianos, na vertical.

Em Santa Catarina, segundo o meteorologista da NSC Comunicação, Leandro Puchalski, também há chance da fumaça chegar, principalmente nas cidades próximas ao estado gaúcho.

Antes de chegar ao RS, a fumaça passou pelo Oceano Pacífico, parte do Chile, da Argentina e Uruguai, carregada por uma corrente de vento na direção que se movimente de oeste a leste do planeta. Nesses países, a fumaça foi percebida ainda na segunda-feira (6). A Austrália vive um dos piores incêndios florestais dos últimos anos, com focos que começaram em setembro do ano passado.

— Existe uma corrente de vento, a cerca dez mil metros de altura [dez quilômetros], que tem uma velocidade que varia de 200 a 300 km/h. As nuvens do tipo pyrocumulus, que se formam quando há atividade vulcânica ou incêndios, por exemplo, jogam a fuligem para altitude. Quando a fuligem chega lá, a corrente de vento transporta a fumaça — explica Sias, mestre em meteorologia pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP (Universidade de São Paulo).

— Esse vento impacta o setor de aviação. Quando uma aeronave está a seu favor, se beneficia gastando menos combustível. Quando está em direção oposta da corrente, ocorre o inverso — acrescenta.

Por causa da altitude da fumaça sobre o Rio Grande do Sul, não há riscos ambientais e para a saúde, garante a meteorologista. O fenômeno pode ser percebido por moradores da fronteira oeste, na divisa do estado com Uruguai e Argentina, em forma de névoa em coloração cinza mesmo sem nuvens de chuva sobre a região.

Na região metropolitana de Porto Alegre também há fumaça, embora não visível. A fumaça sobre o sul do Brasil pode ser identificada em satélites de alta resolução, como os da Nasa, a agência espacial americana.

A fumaça também deve influenciar na coloração do pôr do sol, que deve ficar mais avermelhado e alaranjado que o visto normalmente, diz a meteorologista da Metsul. A fumaça deve se dissipar no sul com a chegada da chuva, o que deve ocorrer entre sexta e sábado. Até lá, deve continuar se deslocando na direção da corrente de vento de altitude.

 

Fonte: NSC