Quase metade dos alimentos analisados em Santa Catarina apresenta irregularidades Cristiano Estrela/Agencia RBS

Lacen do Estado é um dos poucos centros do país a realizar testes de metais pesados e sódio de alta complexidade.  Foto: Cristiano Estrela

O monitoramento de produtos alimentícios em Santa Catarina vai muito além de detectar pelos de roedor em extrato de tomate – semana passada cinco lotes de derivados da fruta de marcas conhecidas tiveram de ser retirados das prateleiras dos supermercados de todo o Brasil por ter fragmentos acima do permitido. A Diretoria de Vigilância Sanitária (Divs-SC) verifica possíveis irregularidades nos alimentos comercializados no Estado há nove anos. Atualmente, o maior problema encontrado está nos rótulos dos produtos.

Os mais recorrentes são referentes a validade, disposição das informações nutricionais e dos ingredientes, uso de informações que podem induzir o consumidor a erro ou engano e atribuições falsas ao produto. Dos números parciais de 2016, 48% das amostras apresentaram irregularidades, sendo 35% por rotulagem. No ano passado, das 362 amostras, 51% tiveram algum problema, principalmente nos rótulos (40%). Em muitos casos a quantidade de nutrientes no produto estava diferente do declarado nos rótulos, principalmente os teores de sódio, carboidratos e gorduras:

– Um alimento para atleta que deveria ter um alto teor de proteína, como consta na rotulagem e não tem é uma fraude ao consumidor também. Uma nutrição enteral [com finalidade especial para ingestão controlada de nutrientes] que se diz hiposódica e a gente constata que tem níveis elevadíssimos de sódio, além de ser fraude, tem risco à vida porque são pessoas com dieta de restrição. É uma alta responsabilidade – explica a diretora da Divs-SC, Raquel Bittencourt.

Das análises feitas no ano passado em suplementos para esportistas, todas as amostras apresentaram alguma irregularidade, sendo que 57% foi pelo excesso de carboidrato.

Os produtos que serão analisados atendem a diversas diretrizes, inclusive da Anvisa e de demandas estaduais, e são definidos no início do ano. Porém, denúncias de consumidores ou algum evento específico também podem exigir testes em alimentos.

Entre 2015 e 2016, o número de amostras analisadas no Programa Estadual de Monitoramento da Qualidade Sanitária de Alimentos (PEMQSA) duplicaram de 300 para 600 amostras. Até julho, metade das amostras previstas já foi coletada, e serão englobados 25 produtos industrializados e in natura.

– O objetivo do programa é a vigilância, visando o cumprimento da legislação. É monitorar antes de identificar algum problema. É também uma forma de ver se as indústrias estão cumprindo a legislação – afirma a médica-veterinária da Divs-SC Letícia Teixeira.

Os laudos são enviados para a indústria responsável, que, em caso de irregularidade, tem um prazo para apresentar defesa ou pedir análise de contraprova (nova análise realizada com a presença de um perito da empresa). Caso se confirme, os resultados são publicados em Diário Oficial e, quando o produto é de circulação nacional, também é divulgado pela Anvisa, para que seja recolhido das prateleiras em todo país. As empresas respondem a processo administrativo.

Laboratório catarinense se destaca nacionalmente

Os principais testes de alimentos no país são realizados pela equipe do Laboratório Central de Saúde Pública de Santa Catarina (Lacen). Os laudos do Lacen são feitos por meio de quatro análises: microscopia, exame físico-químico, exame microbiológico e rotulagem. A gerente técnica de análise de produtos e meio ambiente do laboratório, Eliane Bressa Dalcin, explica que os laudos levam no máximo 30 dias para ficar prontos.

Ela reforça que a capacidade analítica do laboratório aumentou nos últimos anos, impulsionada pela aquisição de equipamentos mais automatizados. Além disso, hoje o Lacen de SC é um dos poucos do país que realiza análise de metais pesados e de sódio, exames de alta complexidade e custo. Neste ano, está sendo verificada a presença de chumbo em farinhas lácteas, feijão e maçã, por exemplo.

Eliane acrescenta que o monitoramento constante também resulta em melhorias em processos dos fabricantes. Ela lembra que em anos anteriores, o café torrado e moído apresentava irregularidades no Estado.

– Tinha muita casca e pau dentro. É permitido até 1% de sujidades e a maioria tinha 4%. Hoje quase não reprova. Eles sabem que estão sendo monitorados e tomam mais cuidado – diz a gerente técnica.

O mesmo aconteceu com o leite. Depois de inúmeros problemas com o produto, neste ano nenhuma marca apresentou irregularidades. A gerente técnica explica que alguns alimentos bastante consumidos ou produzidos em SC também são avaliados. É o caso de suínos no Oeste e sushi e ostras no litoral.

Confira dicas para não cair em ciladas:

— Leia sempre atentamente o rótulo antes de comprar o alimento. Avalie, principalmente, a data de validade e a informação nutricional. Observe os percentuais de sódio, gordura, carboidratos. Compare os produtos e dê preferência para aqueles que possuem menores valores desses nutrientes na mesma porção.

—  Para consumidores com alergia alimentar é importante lembrar que desde julho está válida a legislação que obriga a informação de ingredientes alergênicos nos rótulos de alimentos industrializados. Essa informação deve estar logo após a relação dos ingredientes no rótulo.

— Além da avaliação do rótulo, quando identificadas alterações não habituais de um alimento industrializado, como sabor, odor ou cor alterados, ou se for verificada a falta ou erro em alguma informação no rótulo, o consumidor pode denunciar diretamente na vigilância municipal ou estadual (Ouvidoria 0800 482 800)Fonte: Médica-veterinária da Divs-SC, Letícia Teixeira.

FONTE: DC