Concórdia, cidade de 74,6 mil habitantes tem mais da metade dos casos de Covid-19 em trabalhadores de frigoríficos, segundo a prefeitura. Há uma empresa do ramo no próprio município e outra na vizinha Ipumirim. O Ministério Público do Trabalho (MPT-SC) investiga casos em funcionários da área também em Chapecó, na mesma região, e Nova Veneza, no Sul.

O governo anunciou na quinta-feira (7) medidas restrições de prevenção ao coronavírus para a região como o fechamento do comércio não essencial por 14 dias e o uso obrigatório de máscaras. A situação também foi tema de reunião da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa (Alesc) com o setor e as secretarias de Estado da Saúde e da Agricultura. Na ocasião, a Associação Catarinense de Avicultura (Acav) e o Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados (Sindcarne-SC) disseram que os frigoríficos adotaram protocolos rigorosos, sob orientação médica.

Segundo a Prefeitura de Concórdia, havia 176 casos confirmados de Covid-19 na cidade, conforme boletim das 18h de quarta-feira (6), 94 deles em trabalhadores de frigoríficos. O primeiro diagnóstico na cidade foi em 11 de abril, de uma mulher contratada por um frigorífico em Ipumirim. Uma semana depois, começaram a aparecer casos na indústria de carne de Concórdia.

Para o prefeito Rogério Luciano Pacheco, não é possível afirmar que os trabalhadores contraíram o vírus dentro do frigorífico da cidade. “Desde aquele momento [primeiro caso confirmado em Concórdia], a prefeitura vem cobrando a eficiência da indústria na prevenção, de não aglomeração, desinfecção do espaço, do uso de máscaras”, completou.

O presidente do Sindicato da Alimentação de Concórdia e Região, Jair Baller, confirmou que há casos da doença em funcionários da indústria da carne no município e em Ipumirim, mas não tinha informação sobre quantos testaram positivo.

De acordo com o prefeito, foi feita uma inspeção da Vigilância Epidemiológica estadual no frigorífico, que é da BRF, no dia 28 de abril e foi dado prazo até 3 de maio para serem feitas adequações. A empresa disse em nota que foram adotadas normas como uso de máscaras, distanciamento mínimo entre funcionários, medição de temperatura, afastamento de quem é do grupo de risco e de casos suspeitos e reforço de higienização, entre outros.

Leitos

O hospital São Francisco de Concórdia é o único com leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da região, que abrange 13 municípios. Até a manhã de quarta (6), os 16 leitos reservados para Covid-19 estavam ocupados, informou o prefeito, por oito pessoas confirmadas com a doença e os demais, com suspeita. Quatro precisam usar respiradores. O local tem mais 10 leitos do tipo para pessoas com outras enfermidades.

O mesmo hospital tem 34 leitos de enfermaria reservados para Covid-19. Desses, 22 estavam ocupados, com 14 pessoas com coronavírus e oito com suspeita. Pacheco afirmou que há possibilidade de ampliação no número desses leitos, assim como os de UTI, com chance de aumento para 20.

 

Ipumirim e Nova Veneza

 

No município de Ipumirim, a unidade da indústria da carne tem 1,3 mil funcionários. O local registrou 44 casos da Covid-19, conforme dito pelo procurador do MPT e gerente nacional do Projeto de Adequação das Condições de Trabalho em Frigoríficos, Sandro Sardá, durante a reunião da Comissão de Saúde na Alesc na quarta.

Já em Nova Veneza, com população estimada de 15,1 mil habitantes, dois dos seis casos de coronavírus são de trabalhadores do frigorífico da cidade. Eles foram até a unidade básica de saúde da cidade em 14 de abril, fizeram exames e o resultado positivo chegou dois dias depois, informou o coordenador da Vigilância Epidemiológica municipal, Abel de Araújo.

Os pacientes são uma jovem de 19 anos, com sintomas; e um rapaz de 20 assintomático. O dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Alimentação de Criciúma e Região, Célio Elias, afirmou que os dois voltariam aos postos na segunda (4).

Após as confirmações dos casos, foi feita avaliação no frigorífico, segundo Araújo. “Fizemos uma reunião para que todas as medidas fossem tomadas em relação aos contatos mais próximos dos dois. Dos que estavam sintomáticos foram coletadas amostras para exames e eles foram afastados da empresa por 14 dias. E todos os contatos familiares também ficaram em quarentena”, afirmou.

Foram feitos oito testes no total, de acordo com a Vigilância Epidemiológica, e somente os dois funcionários iniciais estavam com a doença. Em relação ao local de trabalho, segundo Araújo foram feitas mudanças no “refeitório, vestiário, área de convívio social”, e os serviços terceirizados foram cancelados para diminuir fluxo de pessoas na empresa. Além disso, funcionários com doenças crônicas e gestantes foram afastados por tempo indeterminado sem perda salarial.

Porém, uma das regras da portaria número 272/2020, da Secretaria Estadual da Saúde, não é seguida, segundo ele e o sindicato: a distância mínima de 1,5 metro entre as pessoas. “Não chega a ser 1,5 metro, mas a 1 metro, pois foi diminuído bastante funcionários pelos afastamentos, e dentro da produção já tem uma norma rígida de higienização dos setores a cada troca de turno exigido pela vigilância sanitária, e mesmo assim todos já usam máscaras e toucas. Além disso ainda foi incorporado mais o uso obrigatório do protetor facial”.

O dirigente do sindicato afirmou que ainda há riscos. “É óbvio que o setor vem tomando medidas, máscaras, álcool em gel, mas só isso não é suficiente. A aglomeração das pessoas e a condição de trabalho nosso, com oxigênio artificial num espaço fechado, não tem troca de ar constante, colaboram muito para a propagação”, afirmou Elias.

A JBS, empresa das unidades de Ipumirim e Nova Veneza, afirmou em nota que implementou regras para evitar o contágio, como o afastamento de pessoas do grupo de risco, ampliação da frota de transporte, desinfecção diária das unidades, medição de temperatura de todos antes do acesso às fábricas, vacinação contra a gripe H1N1 e ações de distanciamento social.

Investigação

O Ministério Público do Trabalho em Santa Catarina (MPT-SC) investiga casos de trabalhadores da indústria da carne confirmados com Covid-19 em Nova Veneza, Concórdia, Ipumirim e Chapecó. Há um inquérito civil em andamento sobre isso para cada município.

 

A forma como é feito o trabalho nos frigoríficos preocupa o MPT em relação à transmissão da Covid-19, conforme o procurador Lincoln Cordeiro. “As indústrias de abate e processamento de carne têm por característica a presença de centenas e, até mesmo, milhares de empregados em um único estabelecimento, os quais laboram em setores produtivos com elevada concentração de trabalhadores em ambientes fechados, com baixa taxa de renovação de ar, baixas temperaturas, alguns setores com bastante umidade e com diversos postos de trabalho sem o distanciamento mínimo de segurança de acordo com os parâmetros que vem sendo estabelecidos pelas autoridades sanitárias”, afirmou.

Em 23 de abril, o MPT firmou termo de compromisso de âmbito nacional com a BRF sobre medidas de prevenção ao contágio do coronavírus nas unidades de abate e processamento de aves.

Em Chapecó, a prefeitura não informou se há casos de coronavírus em trabalhadores do setor. “Existe um plano pelas duas grandes empresas de agroindústria aqui desde lá do início da pandemia para o resultado, a resposta, o enfrentamento de casos que porventura possam acontecer”, disse o prefeito, Luciano Buligon (PSL), em entrevista coletiva no dia 29 de abril.

O gestor declarou ainda que técnicos da Vigilância Epidemiológica de Chapecó têm feito visitas diárias de fiscalização “e de respeito a essas normas [de prevenção ao coronavírus]“.

O G1 não conseguiu contato com o sindicato dos trabalhadores do setor da região de Chapecó.

Estado

A Secretaria de Estado da Saúde informou por nota que houve fiscalização da Diretoria de Vigilância Sanitária em empresas do ramo da agroindústria em Concórdia, Ipumirim, Seara, Forquilhinha, Nova Veneza, entre outros, e que foram pedidas algumas adequações, dentre elas a desinfecção total. Também afirmou que “a retomada das atividades foi autorizada e uma portaria deve ser emitida com normas específicas para este setor”.

 

Fonte: Belos