Com 15 anos de caminhoneiro, ele abandonou a estrada para tentar a vida no humor

Talvez você nunca tenha ouvido falar do catarinense Pilha, mas é provável que já tenha escutado por aí célebres expressões como “pode abandoná” ou “tá contente agora?” — seja entoadas pela voz característica do comediante, seja pelos fãs que replicam essas palavras sem moderação. Pilha é uma criação do aplicativo que ele gosta de chamar de “zap” (o WhatsApp). Caminhoneiro há 15 anos, diz que começou a gravar áudios por brincadeira, para mandar aos colegas de profissão e amigos.

Com profissão nos últimos 15 anos de caminhoneiro, Pilha abandonou nos últimos dias a estrada para tentar a vida como humorista. Várias agências estão contatando o Concordiense, entre eles o Programa Pânico, um dos mais significativos em humor no Brasil. Pilha ainda fala em fazer sucesso no exterior.

Sempre fui meio brincalhão, de fazer micagem. Fazia direto para dar risada , justifica ele ao Pioneiro, por telefone, diretamente da cidade de Xaxim, na região oeste de Santa Catarina.

Pilha é apelido de Elvio Da Nhaia, 36 anos, natural de Concórdia (SC), mas que vive há cerca de cinco anos em Uberlândia (MG). O sucesso dos áudios gravados sem pretensão alguma no celular fizeram a estrada do caminhoneiro mudar de rumo: há um mês ele largou o emprego para tentar viver da comédia.

Devo me mudar em breve, acho que para Chapecó, porque é no sul que faço mais sucesso, de Curitiba (PR) para baixo diz, com planos de montar um espetáculo ou seguir trabalhando em eventos e com publicidade.

O sotaque que fez muita gente do comediante, tem uma explicação bem óbvia:

Minha mãe é italiana diz Pilha.

Pilha conta que começou a gravar os áudios com mais frequência há cerca de um ano e meio. Mas, três meses atrás, um dos arquivos que o caminhoneiro mandava aos amigos traçou rota própria, fugindo completamente de controle.

Nele, Pilha narrava com humor a situação não muito agradável da família de um caminhoneiro:

A mãe, coitada, vai na missa, reza, se “enjoelha”, pede pro padre proteger o filho, vai nas “procisson”, vai nas festa da igreja, reza em casa um terço, pega a Bíblia antes de deitar, reza pro filho, pede pra proteger ele, faz promessa pra ele se dar bem na vida. O pai chega em casa, reza pro piá também, a irmã também, reza pro irmão. E o irmão na estrada (…), virado no demônio, “lôco” dentro das “rôpa”.

Esse estourou, começaram a me ligar, fiz participação em música. As pessoas me encontram e ficam repetindo “tá contente agora?”. Isso é uma coisa que falo há uns 10 anos já, comemora Pilha, que ganhou esse apelido na estrada, por causa do “jeito agitado”.

A história, conforme o comediante, foi inspirada em um amigo que estava “meio perdido em festa e balada, mas em casa era um anjinho”. Com mais de 150 grupos de WhatsApp no celular, Pilha conta que apagou seu áudio de mais sucesso, mas tem muita gente que ainda o solicita.

Tive que excluir porque tanto arquivo travava meu celular, hoje nem lembro mais se tiver que fazer de novo — comenta o comediante, que grava de dois a três áudios por semana.

Pilha não sabe explicar o que faz as pessoas gostarem tanto dos áudios que grava de forma tão amadora, mas já foi surpreendido até mesmo com crianças repetindo o bordão “pode abandoná”. O jeito espontâneo com que narra histórias talvez seja um dos principais talentos dele (e de boa parte dos comediantes). Também tem certo conhecimento de causa envolvido, já que Pilha fala de universos que conhece bem, como o dos caminhoneiros ou dos motoristas de Chevette.

Já tive dois Chevettes, incomodava só no inverno, pior é mulher, que incomoda o ano inteiro — brinca ele, que já foi casado por duas vezes e tem dois filhos.

Fonte: Mais Xaxim