Santa Catarina é o sexto estado no ranking de flagrantes de trabalho infantil e o quarto da lista de acidentes de trabalho com crianças, como mostrou o Bom Dia Santa Catarina desta segunda-feira (14).  Só em 2015, foram 169 meninos e meninas feridos, o número é quase 80% superior ao registrado em 2014.

“Meu nome é Josué Luis Ferreira, eu tenho 20 anos, sofri acidente de trabalho com 17 anos”. “Meu nome é Daiane Machado Furlan, tenho 17 anos e sofri um acidente de trabalho”. “Meu nome é Hemerson dos Santos, tenho 15 anos, sofri um acidente de trabalho com 14″. Os três jovens não se conhecem, nunca se viram, mas tiveram a vida mudada para sempre pelo mesmo motivo. “Eu gostava de trabalhar, mesmo sendo perigoso, a gente nunca pensa que vai acontecer com a gente”, disse Daiane. Entretanto, aconteceu, ela trabalhava com o moedor de carne, num frigorífico.

Bastou um descuido para que ela perdesse a mão para sempre. “Eu não consigo fazer algumas coisas, é difícil”, disse a menina..

Josué, Daiane e Hermerson são vítimas de acidente de trabalho (Foto: Reprodução/RBS TV)
Josué, Daiane e Hermerson são vítimas de acidente de trabalho (Foto: Reprodução)

Com o Hemerson, o acidente aconteceu em uma serraria, ele perdeu a mão e parte do braço de uma só vez. “No hospital, às vezes, eu chorava de dor, por causa da cirurgia na perna, porque eu tive que tirar pele da perna para pôr no braço”, lembrou o menino.

Josué trabalhava como técnico em uma empresa de internet e subiu em um poste sem equipamento de proteção. “Eles falaram que era para nós instalarmos e, com risco, sem equipamento, instalamos, porque nos mandaram. A gente era peão e não queria desobedecer”, relatou o garoto.

Ele acabou levando um choque de 6 mil volts. “Eu amputei a perna direita e o meu dedo da mão direita. Nos braços, foi queimadura de segundo grau. Na mão, de terceiro grau, assim como em parte do rosto”, contou o garoto.

Foram cinco meses e 17 dias em coma, entre a vida e a morte. O sofrimento trouxe uma lição amarga: “Que o dinheiro não é tudo. Sem saúde, a gente não vive”, conclui Josué.

Josué levou um choque de 6 mil volts ao subir em um poste (Foto: Reprodução/RBS TV)
Josué levou um choque de 6 mil volts ao subir em um poste (Foto: Reprodução)

Daiane, Hermerson e Josué não estão sozinhos. Em Santa Catarina, muitas famílias ainda seguem a tradição dos pais e avós, a de que criança tem que trabalhar desde cedo. Sem se dar conta,  eles passam por cima da lei.

Legislação

No Brasil, nenhuma criança pode trabalhar até os 13 anos. Dos 14 aos 16, é possível como aprendiz, com a obrigação de conciliar o trabalho e a escola.

Depois dos 16, pode ter a carteira assinada, mas o emprego não pode ser à noite, nem uma atividade de risco, como operar máquinas, por exemplo. Só depois dos 18, o jovem pode atuar em qualquer função.

“Adiantar esse processo, só vai fazer com que ele adoeça, com que ele não estude. Lugar de adolescente e de criança é na escola”, afirmou Thais Fidelis Alves Bruch, procuradora do Ministério do Trabalho.

É para a escola que o Josué vai voltar, para se formar como técnico em informática. “Vou seguir a carreira que mais gosto, ligada à tecnologia”, disse.

Hemerson também sonha alto: “Estou no 8º ano do ensino fundamental, quero fazer ensino médio e faculdade de Medicina Veterinária”, disse.

FONTE: G1/SC