Em meio a investigações, delações premiadas e prisões da Operação Lava Jato, mais brasileiros estão admitindo que já “deram um jeitinho” para resolver problemas.

Pesquisa da consultoria Ipsos obtida com exclusividade pela BBC Brasil mostrou que, entre outubro de 2014 e maio de 2016, o número de entrevistados que declarou ter “dado um jeitinho no último ano” passou de 49% para 62%, um aumento de 26%.

O último levantamento foi feito entre 29 de abril e 7 de maio passado, com 1.200 pessoas em 72 municípios do país. A margem de erro é de 3 pontos percentuais.

Segundo o estudo, para a maioria dos brasileiros, atitudes como pedir a um médico conhecido para passar na frente na fila do posto de saúde ou pedir a ajuda de um amigo que trabalha no serviço público para expedir um documento mais rápido encaixariam nessa categoria e não seriam corrupção.

Isso significa que as pessoas estão sendo menos éticas? Não necessariamente.

Para Danilo Cersosimo, diretor na Ipsos Public Affairs e responsável pela pesquisa, o dado é sinal de que há mais transparência nas respostas.

“Estamos vivendo um momento de transformação de valores. Não significa dizer que de uma hora para outra todo mundo vai começar a agir de forma correta”, diz. “Mas o contexto faz com que todos tenham que admitir pequenos ou grandes deslizes.”

Cersosimo cita um contexto que estaria colocando todos “contra a parede” e destaca a importância da Lava Jato como símbolo do combate à corrupção. Segundo outra pesquisa da Ipsos, em abril 75% dos entrevistados achavam que a operação iria transformar o Brasil em um país sério.

“Quando as pessoas começam a ver que ações contra corrupção vão dar resultado, elas começam, quase como obrigação moral, a rever seus conceitos.”

Ao lado da Lava Jato, a crise econômica e a piora de condições de vida da população influenciariam numa mudança de comportamento. Em tempos difíceis, explica Cersosimo, quando é necessário sair do consultório privado e entrar na fila do SUS, a revolta com os desvios do dinheiro público cresce. Isso porque as pessoas passam a sentir na pele os prejuízos que a corrupção acarreta aos serviços do Estado.

O reflexo disso chegaria às pequenas atitudes do dia a dia e na ligação, ainda que incipiente, entre o cotidiano e a grande corrupção dos políticos.

“Em partes, a pessoa está refletindo que os R$ 20 pro guarda no final das contas ajudam a manter esse modelo deformado, onde o político corrupto desvia R$ 300 milhões.”

Segundo Cersosimo, prova da transformação na cabeça dos brasileiros seria a quantidade de entrevistados que acreditam que o “jeitinho” não é uma coisa certa: o número passou de 54% para 67%.

Além disso, neste ano, mais pessoas definiram fazer gato de energia elétrica e passar conversa no guarda para não pagar multas, por exemplo, como corrupção (64% e 56%, respectivamente) e não como “favor” ou “jeitinho”.

Em 2014, essas porcentagens eram de 58% e 45%, respectivamente. Apenas “guardar lugar na fila para alguém que vai resolver um problema” continuou no mesmo patamar – 53% o consideram um “favor”.

Jeitinho na crise

O protagonismo dado à Lava Jato pelo diretor da Ipsos no aumento da prática do “jeitinho” não é consenso. Especialistas consultados pela BBC Brasil diminuem a relevância da operação nos resultados da pesquisa.

Para Rita Biason, coordenadora do Centro de Estudos e Pesquisas sobre Corrupção da Unesp, mais gente está admitindo o jeitinho por causa da difícil situação econômica do país.

Segundo ela, quanto mais bens e serviços são tirados da população, maior será o uso de estratégias “alternativas” para se conseguir o que se quer.

“Pode haver mais consciência de que o ato é reprovável, mas, dadas as atuais circunstâncias, a pessoa se vê obrigada (a isso). Ela perdeu o emprego, perdeu o convênio médico, vai para fila do SUS e vai achar um jeito de ser atendida.”

Ela explica que o “jeitinho” fica numa categoria intermediária entre o favor, que não gera transgressão, e a corrupção, quando há o completo desrespeito às leis.

Mesmo sendo uma “zona cinzenta”, Biason afirma que o brasileiro sabe diferenciá-lo da ilegalidade: o jeitinho seria pessoal, quase uma camaradagem, e a corrupção, institucional.

Apesar de haver mais consciência sobre os problemas de agir fora das regras, a professora não acha que os brasileiros estejam mais atentos na relação entre seus desvios cotidianos e a corrupção dos políticos, por exemplo.

“As pessoas não veem conexão entre Brasília e o dia a dia, a prática da cidadania e as negociações no âmbito político. São coisas muito distantes.”

Nesse sentido, investigações e prisões seriam absorvidas pela população “como uma esponja” e moldariam suas opiniões, mas não suas ações.

Biason vê isso no aumento do número de entrevistados que respondeu “para que a coisas funcionem é preciso que todos cumpram a lei”. A proporção foi de 76% em 2014 para 82% em 2016.

“O fato de alguém ser crítico não significa que não praticará o jeitinho, porque, para ele, são duas coisas desconexas.”

Processo mais longo

Mudar de fato o comportamento do brasileiro perante a corrupção exige mais do que operações da Polícia Federal, diz o sociólogo Alberto Carlos Almeida, autor de “A Cabeça do Brasileiro”.

Segundo ele, o costume de não seguir regras é muito arraigado no país e uma alteração, mesmo que inicial, não acontece em alguns anos. Ainda de acordo com o Ipsos, 74% dos entrevistados afirmam que já “deram um jeitinho” em algum momento da vida.

“Isso vai durar só enquanto acontece essa coisa mais midiática. (Uma transformação) não acontece em dois ou três anos por causa de uma operação. Quantas dessas já tivemos?”

Para Almeida, a sequência de investigações é até negativa, porque aumenta a descrença da população na política, para a qual não há outras alternativas. É como se estivéssemos prendendo todos os líderes do sistema sem ter um plano B.

“O melhor seria uma mudança mais lenta. Um combate à corrupção mais gradualista, com passos mais sólidos e mais difícil de retroceder (nas conquistas). Quando você acelera muito, corre o risco de voltar atrás.”

Seria necessário, portanto, mudar as leis e os sistemas de controle e não apenas criar operações de combate. Uma reforma estrutural, diz Almeida, minaria as causas da corrupção.

A coordenadora da pesquisa da ONG Transparência Brasil, Juliana Sakai, vai na mesma linha. Para ela, as instituições deveriam tornar mais difícil a prática de atos ilícitos.

“Está todo mundo assustado com a Lava Jato, mas ela mesmo tem poucos mecanismos de investigação. A maioria dos casos é de delação, de alguém que irrompe do sistema. É preciso mudar os mecanismos institucionais.”

O sociólogo pondera que a aprovação dessas medidas no Congresso depende da pressão da população e que a melhoria das educação ajuda na criação de cidadãos mais atuantes.
Os pacotes anticorrupção sugeridos por Dilma e pelo Ministério Público Federal, por exemplo, não foram para frente nas Casas.

“No fim, a educação é a chave. Pessoas mais educadas pressionam mais o sistema político”, afirma Almeida.

Relembre casos de corrupção no Brasil

ESCÂNDALO DA MANDIOCA — O QUE FOI: desvio de Cr$ 1,5 bilhão da agência do Banco do Brasil de Floresta (PE) destinado ao Programa de Incentivo Agrícola (Proagro), do governo federal. QUANDO: 1979 a 1981. DETALHES DO CASO: os envolvidos no esquema usaram o dinheiro desviado para comprar imóveis, automóveis e outros bens. O procurador da República Pedro Jorge de Melo, que lançou as denúncias, foi assassinado. QUE FIM LEVOU? Em 2013, 22 acusados tiveram penas aumentadas para 3 a 16 anos de prisão. Dois réus foram dispensados do julgamento por terem mais de 70 anos de idade. Ninguém foi preso porque ainda podiam entrar com recurso

COROA-BRASTEL – O QUE FOI: Os ex-ministros Delfim Netto e Emane Galvêas foram acusados de desvio de recursos públicos ao liberarem empréstimo irregular da Caixa Econômica para Assis Paim Cunha, dono do grupo Coroa-Brastel. QUANDO: 1981 a 1985. DETALHES DO CASO: Cunha foi acusado de emissão irregular de letras de câmbio sem lastro, causando um rombo no mercado financeiro de Cr$ 231 bilhões. QUE FIM LEVOU? Após julgamento em 1994, a denúncia contra Galvêas foi rejeitada. Delfim livrou-se porque a Câmara negou licença ao STF para processá-lo. Em 1998, Cunha pegou oito anos de prisão domiciliar; morreu em 2008. Os 34 mil investidores prejudicados não recuperaram o dinheiro.

CASO PC FARIAS — O QUE FOI: Paulo César Farias era tido como chefe de esquemas de corrupção que levaram ao impeachment do então presidente Fernando Collor (1990 a 1992), movimentando contas no exterior que serviam a uma rede de propinas do governo federal. QUANDO: 1990 a 1992. DETALHES DO CASO: O ex-tesoureiro de Collor teria manipulado contratos ao indicar funcionários do governo para alterar documentos, criar contas fantasmas e desviar verbas, comprometendo US$ 1 bilhão. QUE FIM LEVOU? Collor renunciou em 1992. Em 1996, dias antes de depor em uma CPI que apurava o elo de empreiteiras com o governo, PC e a namorada Suzana Marcolino foram achados mortos. A justiça considerou crime passional, embora tenha se falado em queima de arquivo.

ANÕES DO ORÇAMENTO — O QUE FOI: Deputados da Comissão de Orçamento do Congresso faziam emendas de lei remetendo dinheiro a entidades filantrópicas ligadas a parentes e cobravam propinas de empreiteiras para a inclusão de verbas em obras. QUANDO: 1993 e 1994. DETALHES DO CASO: O articulador do esquema era o deputado federal João Alves. O deputado baiano apostava na loteria para lavar o dinheiro ilegal. Outros membros do governo e representantes de empresas privadas estavam envolvidos. QUE FIM LEVOU? Ao todo, seis deputados tiveram seus mandatos cassados, quatro renunciaram e oito foram absolvidos.

BANESTADO -- O QUE FOI: Investigações localizaram cerca de US$ 30 bilhões em 137 contas do Banestado operadas por doleiros em um esquema de evasão fiscal na gestão de Gustavo Franco à frente do Banco Central. QUANDO: 1996 a 1999. DETALHES DO CASO: O dinheiro saiu do país por meio de offshores –empresas montadas em paraísos fiscais– nas contas CC5, com depósitos valores inferiores a R$ 10 mil sem identificar o depositante. Celso Pitta, ex-prefeito de São Paulo, foi um dos indiciados. QUE FIM LEVOU? A CPI foi encerrada sem que fosse votado o relatório final do deputado José Mentor, que sugeriu o indiciamento de 91 pessoas. O doleiro Alberto Youssef pegou dois anos de prisão por corrupção ativa –na ocasião ele fez sua primeira delação premiada para redução de pena.

DOSSIÊ CAYMAN — O QUE FOI: Um documento falso que citava a existência de uma empresa em paraíso fiscal em nome de integrantes do PSDB, para envio ilegal de dinheiro. QUANDO: 1998. DETALHES DO CASO: O dossiê ligava o então presidente Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas e os ministros José Serra e Sérgio Motta  à empresa CHJ AIT, com uma conta de US$ 368 milhões no paraíso fiscal do Caribe. Cópias do dossiê teriam sido vendidos a políticos da oposição durante as eleições, como Paulo Maluf e Fernando Collor de Mello. QUE FIM LEVOU? O pastor Caio Fábio, apontado como responsável pelo falso dossiê, pegou quatro anos de prisão por calúnia.

MÁFIA DOS FISCAIS 1 e 2 – O QUE FOI: Comerciantes de São Paulo que não pagassem propinas sofriam ameaças, como ter mercadorias apreendidas e projetos de obras embargados. O primeiro escândalo estourou em 1998, no governo Pitta. O segundo veio 10 anos depois. QUANDO: 1998 e 2008. DETALHES DO CASO: Na ‘máfia 1′, os fiscais pediam de R$ 700 a R$ 1.000 para emitir protocolos de permissão da atividade de ambulante na região da Lapa. Na ‘máfia 2′, funcionários da Subprefeitura de São Miguel Paulista faziam extorsão diária, de R$ 7 em média. QUE FIM LEVOU? O advogado e ex-vereador José Izar e seu irmão foram condenados a oito anos de prisão pela participação na ‘máfia 1′. Em 2008, a Polícia Civil prendeu 11 supostos envolvidos no segundo caso.

NATAN DONADON — O QUE FOI: Como diretor financeiro da Assembleia Legislativa de Rondônia, Natan Donadon foi denunciado pelo Ministério Público por desviar recursos da casa. Mais sete pessoas foram denunciadas. QUANDO: 1998. DETALHES DO CASO: O golpe se dava por meio de simulação de contrato de publicidade que deveria ser executado pela empresa MPJ Marketing Propaganda e Jornalismo Ltda. Cerca de R$ 8 milhões foram desviados. QUE FIM LEVOU? Em 2010, o STF condenou Donadon (já como deputado federal) a 13 anos e quatro meses de prisão por formação de quadrilha e peculato. Ele foi o primeiro parlamentar condenado à prisão desde a Constituição de 1988.

BANCO MARKA – O QUE FOI: O Banco Central vendeu dólar mais barato ao Banco Marka e ao FonteCindam, o que causou prejuízo bilionário aos cofres públicos. QUANDO: 1999. DETALHES DO CASO: Após uma alta do dólar, o banco perdeu dinheiro por ter 20 vezes seu patrimônio aplicado no mercado futuro da moeda. Testemunhas alegaram que Salvatore Cacciola, dono do Marka, comprava informações privilegiadas do BC. QUE FIM LEVOU? Cacciola foi condenado a 13 anos de prisão, mas fugiu para a Itália em seguida. Em 2007, foi pego pela Interpol. O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro extinguiu sua pena em 2012. Francisco Lopes, ex-presidente do BC, pegou seis anos de prisão.

LICITAÇÃO DO TRT-SP — O QUE FOI: O Ministério Público e a CPI do Judiciário descobriram que, de R$ 231 milhões para a construção da nova sede do TRT em São Paulo, R$ 169 milhões foram desviados. QUANDO: 2000. DETALHES DO CASO: A investigação achou R$ 62 milhões nas contas do Grupo OK, do ex-senador Luiz Estevão (foto). O Juiz Nicolau dos Santos Neto, o “Lalau”, teria recebido R$ 1 milhão para autorizar pagamentos irregulares à construtora do fórum. QUE FIM LEVOU? Preso e condenado em 2006, Luiz Estevão soma 31 anos de prisão e pagamento de multa. Nicolau foi preso na época, mas recebeu indulto por conta da idade e foi solto em 2014. Também foram condenados os empresários Fábio Monteiro de Barros, José Eduardo Ferraz e as empresas Incal e Monteiro de Barros Investimentos.

VAMPIROS DA SAÚDE – O QUE FOI: Empresários e funcionários do Ministério da Saúde realizaram compra superfaturada de medicamentos que atuam no processo de coagulação do sangue, os hemoderivados. QUANDO: 2004. DETALHES DO CASO: O Ministério Público e a Polícia Federal revelaram o caso. Segundo o MPF, houve violação do sigilo das propostas e combinação prévia dos preços ofertados. As empresas Octapharma, Fundação do Sangue e Baxter foram acusadas de firmarem acordo para dividir o mercado de hemoderivados entre as três. QUE FIM LEVOU? O MPF-DF ajuizou em 2008 ação de improbidade administrativa contra sete pessoas e três empresas envolvidas.

MENSALÃO — O QUE FOI: esquema de pagamento de propina a parlamentares para que votassem a favor de projetos do governo Lula. QUANDO: 2005. DETALHES DO CASO: Segundo o então presidente do PTB, Roberto Jefferson, congressistas aliados recebiam um “mensalão” de R$ 30 mil do então tesoureiro do PT, Delúbio Soares. Jefferson afirmou ainda que falou do esquema para o presidente Lula. José Dirceu, então ministro da Casa Civil, e integrantes da alta cúpula do PT seriam os líderes do mensalão. QUE FIM LEVOU? Em 2013, o STF condenou 25 dos 38 réus do processo, entre eles figurões do PT como José Dirceu, Delúbio, José Genoíno e João Paulo Cunha. Também foi preso o operador do esquema, Marcos Valério.

OPERAÇÃO FAKTOR — O QUE FOI: Fernando Sarney, filho de José Sarney, é apontado em crimes contra a ordem tributária e lavagem de dinheiro no Maranhão. QUANDO: 2006. DETALHES DO CASO: O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) comunicou à Polícia Federal uma movimentação financeira suspeita nas contas de Fernando Sarney e sua mulher, e pediu a quebra de sigilo bancário, telefônico e fiscal dos acusados. QUE FIM LEVOU? O STJ (Superior Tribunal de Justiça) anulou em 2011 as provas obtidas no processo. O relator, ministro Sebastião Reis Júnior, disse que não houve indicação de elementos mínimos que justificassem a quebra dos sigilos.

“RENANGATE” — O QUE FOI: O então presidente do Senado, Renan Calheiros, foi acusado de crimes diversos como tráfico de influência, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, exploração de prestígio, sonegação fiscal e crimes de corrupção. QUANDO: 2007. DETALHES DO CASO: O escândalo começou com a revelação de que Renan recebia recursos da empreiteira Mendes Júnior, por meio do lobista Cláudio Gontijo, para pagar pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha fora do casamento. QUE FIM LEVOU? Mesmo após duas votações no Senado que vetaram sua cassação, Renan renunciou ao cargo de presidente do Senado, mas manteve o mandato. Voltou ao cargo em 2013.

OPERAÇÃO NAVALHA — O QUE FOI: Operação da Polícia Federal que desarticulou quadrilha que fraudava licitações para a realização de obras, como as previstas no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e no Luz Para Todos, do governo federal. QUANDO: 2007. DETALHES DO CASO: A quadrilha desviou recursos do Ministério de Minas e Energia, da Integração Nacional, das Cidades, do Planejamento, e do Dnit (Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes). Funcionários da construtora Gautama, como o sócio-diretor Zuleido Soares Veras (foto), estavam envolvidos. QUE FIM LEVOU? A denúncia do MPF contra 12 acusados, incluindo Veras, foi aceita em 2013 pela Corte Especial do STJ (Superior Tribunal de Justiça).

ÁGUAS PROFUNDAS — O QUE FOI: Operação da PF que investigou fraudes em licitações na Petrobras com construtoras de plataformas. QUANDO: 2007. DETALHES DO CASO: Licitações de reparos em quatro plataformas foram combinadas por três empresas suspeitas (Angraporto, Mauá Jurong e Iesa), formando um cartel. A quadrilha ganhou pelo menos R$ 150 milhões. QUE FIM LEVOU? No mesmo ano, 14 envolvidos foram presos. Em 2009, a oposição pediu abertura de CPI, na qual depôs o presidente da estatal, Sérgio Gabrielli, que rebateu as acusações de fraude. DEM e PSDB abandonaram a CPI.

SATIAGRAHA — O QUE FOI: Operação que apurou supostos crimes financeiros da gestão do grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas (foto). Celso Pitta e o megainvestidor Naji Nahas estariam envolvidos. QUANDO: 2008. DETALHES DO CASO: O Opportunity foi apontado como parte de um esquema que desembocaria no chamado “valerioduto” do mensalão. O esquema envolvia gestão fraudulenta, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, concessão de empréstimos vedados e corrupção ativa. QUE FIM LEVOU? Em 2011, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) anulou todas as provas obtidas pela operação em razão de suas ilegalidades. Dantas e Nahas foram soltos. Em 2014, o então delegado Protógenes Queiroz, que comandou a Satiagraha, foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal por violação de sigilo funcional.

FUNDAÇÃO JOSÉ SARNEY — O QUE FOI: Reportagem de “O Estado de S. Paulo” informou que ao menos R$ 500 mil dos recursos repassados pela Petrobras para patrocinar um projeto cultural da fundação teriam sido desviados para empresas fantasmas e empresas da família do senador José Sarney. QUANDO: 2009. DETALHES DO CASO: O dinheiro teria ido parar em contas de empresas com endereços fictícios e contas paralelas. O projeto nunca saiu do papel. QUE FIM LEVOU? Em 2011, a Assembleia Legislativa do Maranhão aprovou a transferência da Fundação José Sarney para a administração do Estado. Em 2013, o MPF-MA propôs ação de improbidade administrativa contra a entidade. A avaliação é que o caso trouxe prejuízo de R$ 298 mil aos cofres públicos.

CASTELO DE AREIA — O QUE FOI: Operação da Polícia Federal que investigou crimes financeiros e lavagem de dinheiro, tendo como centro as operações do Grupo Camargo Corrêa. QUANDO: 2009. DETALHES DO CASO: As buscas realizadas nos escritórios da construtora e nas casas de diretores acharam documentos com indícios de pagamentos de propinas, fraudes a licitações e doações ilegais a políticos. QUE FIM LEVOU? O Superior Tribunal de Justiça julgou em 2011 ilegais as provas produzidas a partir de interceptações telefônicas. As escutas foram consideradas irregulares por terem iniciado a partir de denúncia anônima.

CARTEL DO METRÔ DE SP — O QUE FOI: A multinacional alemã Siemens delatou a existência de um cartel –do qual fazia parte– em licitações para compra, construção e manutenção de linhas de trens e metrô em São Paulo (de 1998 a 2008) e no DF (2007). Os metrôs de RJ, MG e RS foram posteriormente incluídos na apuração do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). QUANDO: 2013. DETALHES DO CASO: O esquema envolveria subsidiárias de multinacionais como a francesa Alstom, a canadense Bombardier, a espanhola CAF e a japonesa Mitsui. Combinações ilícitas teriam resultado em contratações com preços superiores aos praticados caso elas concorressem normalmente. QUE FIM LEVOU? O inquérito está sendo analisado pela Primeira Turma do STF, composta por cinco ministros.

OPERAÇÃO LAVA JATO — O QUE FOI: Um esquema bilionário de lavagem e desvios de dinheiro envolvendo a Petrobras. A operação investiga as maiores empreiteiras do país, com contratos que somam R$ 59 bilhões com a Petrobras, suspeitas de pagar propinas para fechar contratos com a estatal. QUANDO: 2014. DETALHES DO CASO: Teriam sido ao menos R$ 10 bilhões movimentados. A relação dos citados pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa (foto), que acabaram investigados pela Procuradoria-Geral da República e que tiveram inquéritos aceitos pelo STF, inclui o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ); o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL); o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto; e a ex-governadora Roseana Sarney (PMDB-MA), entre outros. QUE FIM LEVOU? Em março de 2015, o STF autorizou a abertura de inquéritos contra 47 políticos, e esse processo está em tramitação na corte. Em abril de 2015, o mesmo STF autorizou que oito acusados ligados a empreiteiras envolvidos no escândalo fossem transferidos para o regime de prisão domiciliar. As investigações continuam.

OPERAÇÃO ZELOTES — O QUE FOI: Suspeita-se que quadrilhas atuavam junto ao Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), órgão ligado ao Ministério da Fazenda, revertendo ou anulando multas. A entidade é um tribunal administrativo formado por representantes da Fazenda e dos contribuintes (empresas) que julga hoje processos que correspondem a R$ 580 bilhões. Estão sob suspeita 74 processos que somam R$ 19 bilhões em valores devidos ao fisco. QUANDO: 2015. DETALHES DO CASO: Entre 74 empresários, companhias e entidades investigadas estão nomes como Petrobras, Embraer, TIM e o Partido Progressista (PP). Cada um é acusado de ter diferentes níveis de envolvimento no esquema. Em 12 dos processos, a polícia encontrou “elementos consideráveis de irregularidades”. Estão nesse grupo Gerdau e RBS; as companhias Cimento Penha, J.G. Rodrigues, Café Irmãos Julio, Mundial-Eberle; as empresas do setor automotivo Ford e Mitsubishi, além de instituições financeiras Santander, Safra, Bradesco e Boston Negócios. QUE FIM LEVOU? Em abril de 2015, a força-tarefa que investiga as fraudes no Carf anunciou a análise de 43 quebras de sigilo bancário de investigados pela Polícia Federal.

CASO SIVAN - O Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) – projeto criado para o controle do tráfego aéreo e a monitoração ambiental da Amazônia foi cercado de grande polêmica, desde sua concepção nos anos 90 até a implantação. O projeto começou no governo Colllor, prosseguiu em Itamar Franco, mas só foi instalado em 2002, durante o governo FHC. O caso envolveu tráfico de influência, demissão de ministros, dúvidas sobre a licitação que escolheu a empresa norte-americana Raytheon Company, uma das maiores fabricantes de material bélico dos Estados Unidos; além de grampos telefônicos internacionais. A gritaria da oposição foi tanta que uma CPI foi instalada para investigar o caso.  A empresa Esca, associada à norte-americana Raytheon, e responsável pelo gerenciamento do projeto, foi extinta por fraudes contra a Previdência. Denúncias de tráfico de influência derrubaram o embaixador Júlio César dos Santos e o ministro da Aeronáutica, Brigadeiro Mauro Gandra.

Fonte: Uol Notícias