Líderes partidários são investigados por ceder endereços falsos a eleitores. Reportagem flagrou moradias declaradas, mas não resididas.

Em Santa Catarina, dirigentes de partidos políticos são suspeitos de disponibilizar endereços falsos de residências para que eleitores transfiram títulos às vésperas da eleição, como mostrou a reportagem desta terça-feira (3). Esta é a segunda reportagem de uma série especial  sobre suspeita de fraudes nas transferências eleitorais em Santa Catarina.

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A reportagem flagrou em Piratuba, no Oeste catarinense, locais onde eleitores declaravam que residiam, que constavam em declarações recentes de transferência do título eleitoral, mas que não eram habitadas por eles. Tem exemplo até de morador do Rio Grande do Sul que tem endereço eleitoral em cidade de Santa Catarina.

Dirigentes de partidos aparecem citados em pedidos de transferência, tão suspeitos que chegaram a ser barrados pela Justiça Eleitoral. O Ministério Público Eleitoral de Santa Catarina (MPE-SC) já investiga alguns dos casos.

“Isso com certeza causa estranhamento e deve ser apurado, está sendo. Essas transferências ilegais elas podem comprometer o resultado das eleições”, disse o promotor do MPE-SC Elias Sobrinho.

Piratuba tem pouco mais de 4 mil habitantes, e recebeu 430 transferências para as eleições deste ano.

Prédio em construção,  quitinetes fantasmas, apartamento sem porta

A reportagem mostrou que em uma das transferências, o eleitor declarou morar na rua Uruguai, Edifício GR2, no Centro, mas o local está em construção.  Em outra, cinco transferências foram feitas para o endereço de um residencial de quitinetes, mas apenas três delas eram ocupadas, e não pelos respectivos eleitores.

O prédio ainda em construção e o imóvel de quitinetes pertencem a Gustavo Radel, que é tesoureiro do PSD em Piratuba. Ele informou à reportagem da RBS TV que as pessoas moravam nos locais declarados e que assinou os documentos a pedido delas na época.

Em outro caso, a Justiça Eleitoral chegou a entrar em contato com uma eleitora que recém transferiu o título para a cidade, mas que não soube dizer onde morava. Ela também estaria em um imóvel de Radel.

“A vizinha de apartamento disse que o local estava vago há seis meses. O apartamento não tem as portas e está em fase de reforma. E a gente em conversa com a eleitora, a pessoa não sabe onde que ela mora, sendo que ela mora na rua principal da cidade em cima de um banco”, disse a chefe do cartório eleitoral de Piratuba, Graciela Ramos.

Dirigente político nega conhecer eleitoras inquilinas, mas muda de ideia

De acordo com a reportagem, Jairo Schimdt, que é presidente do PSD em Piratuba, assinou duas declarações comprovando que duas eleitoras moravam em quartos no Centro da cidade. O próprio declarante chegou a negar que conhecia as eleitoras durante uma checagem da Justiça Eleitoral. Entretanto, quando soube que as declarações estavam em investigação, mudou a informação.

Schimdt disse que as conhecia, mas não lembrava o nome completo das pessoas, e que elas já tinham ido embora da cidade. Outro eleitor, que também teve um domicílio eleitoral assinado pelo presidente do partido, conversou com a reportagem em Ipira, cidade vizinha de Piratuba.

O senhor afirma que mora “toda a vida quase” em Ipira. Sobre a motivação da mudança do domicílio eleitoral, ele conta:  “Foi para eleger um cara lá que é meu amigo. O candidato a prefeito. Ele pedia pra mim: ‘podia transferir o título pra Piratuba’?”, disse.

Jairo Schimdt não quis comentar as suspeitas de fraude à reportagem

Fonte: G1 SC