Imagine um dispositivo minúsculo que ao ser introduzido no organismo é capaz de destruir vírus e células cancerosas. Ou que ainda consegue desobstruir vasos sanguíneos. Com o desenvolvimento da nanotecnologia, a expectativa é de que muitas novidades apareçam neste século.

Em grego, o prefixo nano significa “anão”. O nanômetro (nm) corresponde a um bilionésimo do metro. Para exemplificar, um vírus, invisível a olho nu, possui cerca de 10 nm a 100 nm. Nesse mundo nanométrico, átomos e moléculas são modificados por meio de braços de robôs nanoscópicos, seja para aperfeiçoar materiais já existentes ou criar novas substâncias que poderão ser usadas de inúmeras maneiras.

As aplicações dessa nova área do conhecimento são imensas. Segundo o pesquisador titular da Escola Politécnica de Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Silvio Valle, a sociedade está diante de um novo paradigma. “Hoje, o limite da tecnologia para miniaturizar a matéria chegou ao fim. A segunda alternativa que nasce com a nanotenologia é justamente o oposto: parte-se de átomos e moléculas (do micro) para a construção de algo maior”.

A nanotecnologia está mais próxima das pessoas do que se imagina. Estima-se que atualmente existam no mundo mais de 800 produtos com algum tipo de intervenção em escala nanométrica no seu processo de produção. Já estão sendo desenvolvidos materiais mais leves e resistentes que vêm sendo usados na indústria automobilística, na construção civil, na fabricação de aviões, entre outros.

Na área tecnológica, aparelhos de MP3, pendrives, computadores, cartões de memória de câmeras digitais e celulares estão tendo sua capacidade de armazenamento e processamento de dados potencializados. A pesquisa no setor alimentício tem obtido resultados positivos na produção de películas que prolongam a durabilidade de frutas e legumes, sem alterar o sabor e a aparência.

Aplicações na medicina

Um dos campos pioneiros no uso dessa nova tecnologia foi o da estética. Cremes com nanopartículas prometem resultados melhores do que os tradicionais. Mas é na medicina que se esperam grandes avanços. Quando aplicada às ciências da vida, a nanotecnologia recebe o nome de nanobiotecnologia.

De acordo com Valle, será possível a invenção de dispositivos ultrapequenos que, usando conhecimentos da biologia e da engenharia, devem examinar, manipular ou imitar os sistemas biológicos. “Assim, superfícies nanofabricadas poderiam fazer crescer artificialmente ilhas pancreáticas e reverter os efeitos do diabetes. Outros nanodispositivos poderiam funcionar como kits de reparos de neurônios para pessoas com mal de Parkinson ou doença de Alzheimer”, informa o pesquisador.

No tratamento do câncer, estuda-se a criação de nanoímãs, que transportariam os medicamentos quimioterápicos especificamente para as áreas de tumor, sem que estas drogas afetassem os tecidos normais. “Hoje os quimioterápicos precisam ser administrados em altas doses para que possam destruir as células tumorais, causando muitas vezes vários efeitos colaterais. Por isto, esta aplicação da nanobiotecnologia assume importância considerável”, destaca Silvio Valle.

Perigos do desconhecido

Como em toda descoberta, é preciso levar em conta também os possíveis riscos da nova tecnologia. E nesse sentido, as regulamentações e os órgãos específicos de vigilância são fundamentais para garantir a segurança da sociedade.

No Brasil, a primeira tentativa de regularizar a nanotecnologia foi do deputado federal Edson Duarte (PV-BA). O projeto de lei apresentado por ele tramitou na Câmera, mas acabou sendo arquivado em novembro de 2008. “Infelizmente, não temos atualmente no país nenhum projeto político para regulamentar a nanotectnologia, tampouco a nanosegurança”.

Segundo o pesquisador, não se trata de impedir o desenvolvimento da ciência, mas de monitorá-la para acompanhar os seus possíveis riscos. “Hoje eu posso pegar um átomo e a partir dele, construir uma substância química totalmente diferente das que existem na natureza. Por isso, é necessária uma regulamentação, uma política de controle e de normas técnicas que orientem os órgãos de vigilância sanitária para fazer o acompanhamento pós-comercialização e a monitorização desses possíveis riscos”, alerta.

Fonte: Agência Brasil